Certo dia, o
missionário estava andando pelas ruas de Moscou, quando recebeu um
chamado em seu celular. Era o início do século XXI, e a tecnologia
havia chegado para encurtar as distâncias, facilitar a comunicação.
Poucos metros depois, ainda com o celular, ele foi parado por
policiais. O ato era comum naqueles tempos em Moscou, pois ainda
existia o medo dos terroristas e mais ainda de
estrangeiros. Mas a abordagem tinha um motivo mais específico, o celular. Os policiais pediram ao missionário a documentação que autorizava a utilização do aparelho. Para tudo na Rússia pós-soviética se precisava de alguma autorização para seja lá o que for, herança de um regime controlador.
estrangeiros. Mas a abordagem tinha um motivo mais específico, o celular. Os policiais pediram ao missionário a documentação que autorizava a utilização do aparelho. Para tudo na Rússia pós-soviética se precisava de alguma autorização para seja lá o que for, herança de um regime controlador.
Os anos passaram e a
tecnologia se difundiu. Em pouco tempo até crianças em jardins de
infância possuíam uma daquelas maravilhas do mundo moderno. Os
pesados “tijolões” foram ficando cada vez mais leves e
compactos, com funções diversas, acoplando mais e mais funções e
multiplicando a utilidade do celular.
Nosso primeiro
celular foi um “presente” daquele missionário abordado em
Moscou, e creio que o telefone do caso narrado acima possa até ter
sido aquele mesmo. Num dia de neve, voltando da Faculdade, de alguma
forma que não entendo até hoje, o celular caiu pelo caminho sem que
fosse percebido. Acabou a era do “tijolão”. Precisaríamos
comprar outro telefone e uma nova linha, uma dor de cabeça adicional
às nossas vidas. Comprar uma linha era sempre um desafio, uma
negociação, pois para efetuar a venda, o vendedor precisava
preencher uma papelada que deveria ser repassada para algum Órgão
controlador. Naqueles formulários apenas se aceitavam números de RG
de um russo. Sem o número, venda proibida! Sempre precisamos achar
um “laranja” para fazer isto por nós... Mas quem faria isto para
um estrangeiro desconhecido?
Confesso que essa
política incomodava muito, pois era como se estivéssemos sendo
tolidos de nossa liberdade. Mas não para isto que aquela prática
era realizada? Os anos nos mostraram que os filmes de espionagem tipo
James Bond eram mais que ficção na Rússia...
Certo dia fomos
convocados para uma reunião da nossa equipe, para algumas
diretrizes. Realmente não me recordo delas, à exceção de uma
específica. Foi-nos dito para cuidarmos o que dizíamos ao celular
ou telefone residencial, pois havia a possibilidade de estarmos sendo grampeados por elementos de órgãos de vigilância. Criaram-se
algumas formas alternativas de se dizer coisas, e o uso foi colocado
em prática a partir daquele momento. Ligar para números suspeitos
era colocar seu número na lista de pessoas potencialmente envolvidas
com atividades, digamos, subversivas do ponto de vista de alguém
sentado em algum gabinete. Fantasia, neurose, exagero?
Algum tempo depois,
em 2010, conheci uma pessoa que frequentava uma igreja em Krasnodar.
Depois de algumas conversas, sentados nos bancos da praça que ficava
em frente ao Palácio do Governo do estado, ele começou a contar o
que fazia antes de se tornar o responsável pelo som da igreja.
- Está vendo aquele
prédio ali na esquina? - apontou ele para um construção que
ficava de frente para o Palácio. - Trabalhei naquela sala lá em
cima, e minha função era interceptar todas as conversas de pessoas
suspeitas e dos altos escalões. Muita informação passou por mim,
a vida de pessoas importantes e pessoas comuns. Eu era parte de um
órgão de inteligência...
- Espero que não
faça mais parte disto – respondi amigavelmente, mas colocando mentalmente a
conversa na categoria de “perigosa”. - Ainda funciona algo lá?
Apenas um olhar de
canto em minha direção foi sua resposta. Mudamos de assunto...
Certo dia recebemos
uma ligação, daquelas que ao atender não se ouve uma resposta ao
nosso “Alo!”. Daquele dia em diante isto começou a ocorrer com
mais frequência. Notamos que quando falávamos ao telefone com
outras pessoas, havia alguém “no fundo”. Algumas vezes as
conversas eram entrecortadas com outra no fundo. Alertados com toda
aquela conversa sobre grampeamento, começamos a suspeitar de algo.
Conversamos depois de um tempo com o dono do apartamento a fim de
solucionar o “problema”. Ele prometeu fazer algumas ligações e
resolver tudo. Daquele dia em diante, mais nada ocorreu, que
soubéssemos. Bem, tudo poderia ser um problema com a linha mesmo,
mas naquele momento de tensão sobre espionagem, quem duvidaria?
Nunca soubemos o que
na realidade fazia o dono de nosso apartamento. O pai dele era um
oficial da polícia aposentado, daqueles muito espertos, em todos os
sentidos. O filho trabalhava em algum Órgão de informação do
Governo, com constantes idas até Moscou. Em todos os anos que
passamos lá, jamais conseguimos saber qual era a função dele.
Tudo isto nos leva a
refletir sobre o quão seguros podemos estar neste mundo. Estamos
numa luta que transcende as esferas naturais, adentrando por
dimensões que estão fora de nosso controle. Aqui não temos
qualquer conhecimento, segurança. Podemos apenas confiar nas
palavras de Cristo, e no poder do seu maravilhoso Nome. Sem ele,
estamos desarmados, cercados por forças contra as quais não temos
chances de vencer. Somos controlados, vigiados e introduzidos em
batalhas contra essas forças.
Quão
poderosas são as palavras do apóstolo Pedro: “Sejam
sóbrios e vigiem. O diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como
leão, rugindo e procurando a quem possa devorar. Resistam-lhe,
permanecendo firmes na fé, sabendo que os irmãos que vocês têm em
todo o mundo estão passando pelos mesmos sofrimentos.” 1
Pedro 5:8-9
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