
Por outro lado, ao nos acostumarmos com determinada
situação, especialmente sendo ela agradável a nós, tendemos a
resistir à mudanças. Gostamos (quase todos) de
estabilidade, o que para a maioria significa “segurança”. Um dos bens com o qual nos acostumamos facilmente é a liberdade. Amamos ter esta sensação de ser livre, solto, independente. Mas o que é a Liberdade?
estabilidade, o que para a maioria significa “segurança”. Um dos bens com o qual nos acostumamos facilmente é a liberdade. Amamos ter esta sensação de ser livre, solto, independente. Mas o que é a Liberdade?
Em 2005 saímos do Brasil para uma experiência, no
mínimo, inusitada. Ao chegarmos na Rússia, pisávamos num pais que
historicamente pouca tradição de liberdade pode exibir. Apesar da
Era Soviética ficar marcada na mente ocidental pela absoluta falta
do nosso suposto maior bem (a liberdade), o fato é que desde tempos
imemoráveis a situação sempre foi assim lá. Mas os ares agora
eram diferentes, não é? A Perestroyka, a democracia, o capitalismo
iriam mudar todo este contexto milenar! Tola ingenuidade ocidental...
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Igreja em Krasnodar, 1998. |
Em nossa primeira conversa com a equipe, descobrimos que
nunca sairíamos do alcance dos olhos das autoridades locais. Fomos
informados que existiam olheiros infiltrados dentro dos cultos
públicos para vigiarem os movimentos que aconteciam dentro da
igreja. Não era uma questão de suspeita, mas de fatos conhecidos da
liderança. Todo o processo judicial que estavam enfrentando com a
prefeitura local, pressões religiosas, indicavam claramente que
todos os passos eram vigiados.
Certo dia, fomos chamados pelo responsável local de
nossa equipe, que nos disse que seríamos “apresentados” para a
igreja no domingo seguinte. Naquele dia, nosso líder local enfatizou
para a igreja também a nossa situação de estudantes da
Universidade Estatal. Na mesma semana recebemos a visita do diretor
geral. Ele iniciou a conversa pedindo mil desculpas pelo ocorrido
naquele domingo. Ficamos sem reação, não entendendo exatamente o
que ele queria dizer, até que finalmente descortinou-se a questão.
Era conhecido de todos (menos de nós, até então) que havia pessoas
naquele auditório que eram na verdade espiões, e que recolhiam
informações a cada domingo. O fato de nos apresentarem como parte
da equipe e incluir a informação de nosso vínculo com a
Universidade foi um erro, pois agora, aquilo que poderia ser
suspeitado pelas autoridades, se tornou um fato comunicado
publicamente. E isto poderia comprometer nosso futuro, tanto na
Universidade, como no próprio país. E de fato, nos próximos anos,
a direção de alunos estrangeiros da Universidade deixou bem claro o
conhecimento desta informação. Mas entramos no jogo, sendo sem
parecer o que se era.
Em uma oportunidade, meses depois, numa conversa com uma
pessoa que estava fazendo parte do ministério que estávamos
ajudando na ocasião, mencionei que éramos “missionários” e que
estávamos ali devido ao visto estudantil. Nas semanas seguintes
descobri que a pessoa não era cristã, o que já me deixou
preocupado. Para piorar, descobri que esta pessoa era professor na
própria Universidade... Depois daquilo, nunca mais a vi no
ministério!
Aprendemos que nunca podíamos estar seguros em relação
às conversas que tínhamos. Todos eram suspeitos, espiões, agentes
secretos, infiltrados, KGB. Aprendemos a viver como os russos,
suspeitando de tudo e de todos. Cada conversa era potencialmente
perigosa! As histórias de deportações e vistos negados eram
sobremaneira abundantes para serem desconsiderados.
Neste sentido, sempre nos sentimos presos, policiados.
Nossa liberdade sempre estritamente vigiada. Mas como dissemos antes,
sempre acabamos por nos adaptar, achar mecanismos de compensação.
Mas afinal, o ponto central nunca foi ou é uma questão de
Liberdade. A própria liberdade pode nos escravizar. O que realmente
importa na vida é nossa atitude para com nossa vida espiritual. A
lição que numerosos mártires russos presos e mortos por sua fé é
pertinente para nossas consciências “livres”. Mesmo nas cadeias,
eles eram livres. Mesmo na morte, eles eram vivos. De que adianta
ganhar toda a liberdade, mas perder a vida eterna? Melhor seguir a
Cristo numa prisão do que a Satanás num palácio!!!
A Ele toda a glória!!!
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