As origens da cultura espiritual do mundo
Há alguns anos atrás eu tive que viajar para a Ásia Central e subir numa balsa que atravessa o rio Amu Darya *. Esta balsa era muito lenta. A margem era despida, coberta apenas por alguns raros arbustos rasteiros, a água era verde-escura, e enquanto a balsa estava se movendo lentamente, eu pensei que este rio era como o antigo Eufrates e como todos os outros rios da Antiguidade, onde a civilização começou. E então me lembrei que não foi muito longe daquele lugar, a partir do Amu Darya, um pouco mais a leste, havia ocorrido um outro evento interessante relacionado com as origens espirituais da raça humana.
* Este é rio mais extenso da Ásia Central. Grande parte dos escritos medievais islâmicos, referem-se ao Amu Dária como Jayhoun, nome dado a um dos quatro rios do Paraíso. Na Antiguidade Clássica, o rio era conhecido em grego como Oxus . Ele se passa pela fronteira do Afeganistão com o Tajiquistão, seguindo depois para o Uzbequistão, e desaparecendo no deserto antes de chegar a desaguar no Mar Aral.
Esta foi a ideologia do séculos XVIII e XIX . Aos poucos, porém , esse mito de homens selvagens inferiores começou a se disseminar. Provavelmente muitos de vocês já ouviram os nomes de famosos estudiosos em seu tempo ( cerca de 100 anos atrás) tais como Edward Taylor ( ele foi um dos maiores especialistas em mitologia e fé primitiva ) e James George Frazer , cujos livros , como "Ramo dourado". Não tendo contato direto com as pessoas deste nível primitivo , os chamados selvagens , recebendo apenas materiais de terceira mão , eles criaram a sua própria concepção do que seria este nível dos antigos seres humanos de selvageria , trevas e a inocência primitiva do homem, que estariam num nível inferior de desenvolvimento da civilização material. Contudo, posteriormente, muitos deles foram forçados a abandonar essa visão. Nikolái Miklujo-Maklái foi um dos primeiros que, ainda que brevemente , entrou no mundo dessas pessoas “selvagens”. E o que ele descobriu? O fato de que aquelas são as mesmas pessoas que nós, com os mesmos sentimentos , paixões, pecados e erros , com a mesma capacidade de pensar de forma lógica e clara. Nikolái Miklujo-Maklái escreveu: "nas suas crenças e em sua vida íntima , eu tentei não penetrar." Ele era muito atencioso, e escreveu que o curto espaço de tempo que viveu na costa da Guiné, não era suficiente para entender a alma do homem primitivo.
Mas na continuidade do trabalho de Miklujo-Maklái e outros pioneiros-exploradores veio todo um exército de novos pesquisadores atrás dos misteriosos moradores das florestas e savanas . O que eles descobriram? Descobriu-se que nos confins da Amazônia ou nos semi-desertos da Austrália viviam pessoas de alta cultura, de uma a cultura muito antiga. Esta era uma cultura totalmente diferente da nossa. Os australianos , por exemplo, têm um sistema complexo de relações , rituais , muitas lendas, contos folclóricos e mitos . Eles representam a natureza, os seres humanos e o “princípio maior” de uma maneira especial. E na base dessas idéias eles constroem as relações sociais e culturais. Tornou-se claro que o homem primitivo era “primitivo” em questões como tecnologia e civilização, mas mentalmente ele não é pode ser tomado como “primitivo”.
Um pesquisador disse: se você ver o assim chamado “selvagem” que está sentado debaixo de uma árvore, olhando fixamente para um ponto, não pense logo que ele apenas se senta sem um objetivo. Essas pessoas têm uma vida interior profunda. Um dos viajantes , que viveu muito tempo nas áreas de Congo , nas densas florestas de Ituri, no coração da África, ao ter um encontro com os pigmeus, destacou que essas pessoas têm espiritualidade, inteligência, mente, e eles têm um grande número de crenças religiosas. O nível moral destes selvagens não só foi não foi inferior do que do europeu , mas muito mais elevado. O nível de civilidade não necessariamente deve estar relacionado ao nível de primitivismo humano. Não há nenhuma conexão direta. A forma primitiva de vida não interfere com o desenvolvimento de uma estrutura espiritual muito refinada.
Mesmo antes da guerra, quando muitos ainda não haviam nascido, e eu era uma criança, lá, na Ásia Central, através dos desfiladeiros se movia uma pequena expedição, que erai liderada por Alex Okladnikov, famoso arqueólogo. Esta expedição passou por desfiladeiros de difícil acesso, que se localizava entre dois grandes rios. Havia tempo que se espalhavam boatos de que neste vale as pessoas acharam alguns ossos extraordinários, e lá foram encontradas pedras estranhas, como que fragmentadas pela mão de alguém. E Okladnikov, que tinha um talento já de um arqueólogo experiente de campo, organizou para lá no verão de 1938 uma pequena expedição. Arqueólogos escalaram pelas rochas, onde podiam chegar apenas cabras da montanha, e, finalmente, chegaram à caverna. O lugar era chamado de Teshik Tosh, que em russo se traduz simplesmente como “caverna”. Quando Okladnikov e seus assistentes chegaram lá, ele encontrou restos humanos no chão. Soube imediatamente que se tratava de uma criança, um menino, ou no máximo, um adolescente. O que chamou a atenção do arqueólogo foi o fato de poder achar quase todos os pedaços do crânio. Ele coletou e colou cento e cinquenta pedaços fossilizados do crânio; crânio estava quase intacto.
Este era o crânio de um menino pertencente a uma raça totalmente diferente da do Homo Sapiens . E quando analisou o queixo e a testa, Okladnikov identificou-o como um Neandertal , Homo Neandertales, como às vezes é chamado. Este homem na nomenclatura biológica foi considerado “homo” somente pelo seu tipo, e sendo considerado um precursor nosso, e alguns até o consideraram como sendo o ancestral direto do homem atual.
A questão de saber qual o grau de relação que temos em relação aos neandertais , ainda é um assunto muito debatido. Estas pessoas, ou criaturas humanoides, viviam na vasta área desde o norte da Europa até a costa leste da China, da África até a Ásia Central. Cerca de 40.000 anos atrás, esta raça desapareceu em todo o planeta. A partir de então, não se podem encontrar mais os seus ossos, e no seu lugar, chegamos nós, o gênero Homo sapiens (homem que sabe). Quando Okladnikov examinou, e em seguida recolheu o esqueleto, ele viu que a criança foi enterrada , e não apenas jogada. Não só isto, a sepultura improvisada desta criança de 8-9 anos de idade foi cercada por chifres de cabras, e é sabido que na Ásia Central, até os dias de hoje , preserva-se o culto de cabras. Okladnikov contrastou este achado com outros, que tiveram lugar na Europa Ocidental. Várias vezes foram encontrados crânios de primitivos seres humanos, como os neandertais , cercado por pedras da mesma forma e tamanho, e a cabeça cercada por pedras, como se fossem os raios do sol. Estes simplórios, mas impressionantes, sinais apontam para o fato de que, mesmo antes da pessoa tornar-se o homem atual (em todos os sentidos da palavra), a única espécie de Homo que vive na Terra agora , já havia tinha algum tipo de crença religiosa.
O que aconteceu? Os cientistas ainda debatem sobre o assunto, mas dificilmente qualquer um deles pode provar um ponto de vista e fundamentá-lo, porque não podemos mais entrar na mente daqueles homens, ou daqueles seres humanos ou criaturas sub-humanas. Ainda assim, seriam, provavelmente, um tipo diferente, e sem dúvida, de menor nível. Em sua cultura encontramos primitivas ferramentas de pedra, o uso do fogo, que foi mantido por um longo tempo, mas não encontramos formas de arte, que é um companheiro essencial para toda a história humana. E a arte de povos antigos sempre foi associado a algo espiritual, religioso.
Muito na sociedade humana moderna está intimamente relacionado com o início da vida humana na história. Problemas sociais, familiares, sexuais, culturais, artísticas, os tradicionais problemas associados com a propriedade da terra, a xenofobia - tudo isso está enraizado na vida do antigo homem, que habitava a terra dezenas de milhares de anos antes de nós. Em nosso subconsciente ainda vivem alguns motivos , sons, algum eco , que está recordando um desses momentos . Mas o homem do século XIX , orgulhoso , eu diria até que, bêbado por sua civilização , acreditou que o mundo se desenvolveu apenas em linha reta, que o homem primitivo era um homem inferior em todos os sentidos, um homem selvagem.
Uma ideia similar vimos pela primeira vez no poeta romano Lucrécio , que considerava a história humana como um constante subir, das trevas da barbárie, ignorância e selvageria à civilização. Porém também é verdade que Lucrécio Carus acreditava que então tudo iria desmoronar e se deteriorar, mas isso é outro assunto. No século XIX , o pensamento era de que nenhuma degradação iria acontecer. Tomando emprestado a ideia cristã do reino de Deus como o objetivo da existência humana, como o fim da história , muitos pensadores do século XIX e as camadas mais educadas da sociedade, por alguma razão, começaram a acreditar que o mundo estava voando, subindo, como um foguete, e que nada poderia parar o movimento progressivo. A palavra "progresso" já havia se tornado uma espécie de termo sagrado. Quando as pessoas diziam a palavra "progressista", elas automaticamente entendiam "bom". Parecia que a cada realização humana , a cada passo em seu caminho para a uma tecnologia cada vez mais avançada, ou as novas descobertas da ciência contribuíam para o progresso, e para atrás ficavam apenas a escuridão , a escuridão da Idade das Trevas . Na Antiguidade teria ocorrido um pequeno brilho, e antes disto havia a escuridão do Oriente, e finalmente, ainda mais para trás, a longa escuridão da vida primitiva.
Obviamente, este pensamento precisava ser confirmado e sua validação começou-se a procurar
no tempo das grandes descobertas geográficas,
quando os europeus atravessaram o oceano e descobriram a América, quando pela
primeira vez verdadeiramente se familiarizaram com os habitantes negros da
África, com as pessoas da Indochina e países até então desconhecidos. Mas, ao mesmo
tempo que encontravam pessoas que estavam no estágio mais baixo da civilização
material, muitos decidiram que este era realmente o mais selvagem e antigo
homem primitivo, e estavam confiantes de que as pessoas recém-descobertas não eram
muito diferentes dos animais.
No final do século XIX. o evolucionista darwinista Ernst Haeckel disse que os selvagens tinham mais em comum com animais, como macacos , cães, do que com o homem europeu desenvolvido. Quando Darwin, ainda jovem veio a Terra do Fogo, ele descreveu os habitantes locais da seguinte forma: homens selvagens, seus olhos se arregalaram, sua expressão facial é monótona, nos lábios existe espuma - não há nada de humano. E esta opinião se enraizou muito rápido na ciência em geral, e em seguida, na antropologia emergente. Surgiu então a ideia de que o homem tinha à sua frente um brilhante futuro e quanto mais rápido ele se liberasse do passado, tanto melhor seria para ele. E de forma que todos estavam bem cientes de que os povos primitivos tinham algum tipo de religião, fé, então tentaram depreciar estas crenças, que passaram a representar como simples superstições grosseiras, uma espécie de barbárie. Em geral, queriam mostrar que a origem da religião estava enraizada na escuridão da ignorância, no medo que os homens tinham das forças da natureza, na impotência, nas limitações, ou seja, em coisas que o progresso poderia e deveria superar.
No final do século XIX. o evolucionista darwinista Ernst Haeckel disse que os selvagens tinham mais em comum com animais, como macacos , cães, do que com o homem europeu desenvolvido. Quando Darwin, ainda jovem veio a Terra do Fogo, ele descreveu os habitantes locais da seguinte forma: homens selvagens, seus olhos se arregalaram, sua expressão facial é monótona, nos lábios existe espuma - não há nada de humano. E esta opinião se enraizou muito rápido na ciência em geral, e em seguida, na antropologia emergente. Surgiu então a ideia de que o homem tinha à sua frente um brilhante futuro e quanto mais rápido ele se liberasse do passado, tanto melhor seria para ele. E de forma que todos estavam bem cientes de que os povos primitivos tinham algum tipo de religião, fé, então tentaram depreciar estas crenças, que passaram a representar como simples superstições grosseiras, uma espécie de barbárie. Em geral, queriam mostrar que a origem da religião estava enraizada na escuridão da ignorância, no medo que os homens tinham das forças da natureza, na impotência, nas limitações, ou seja, em coisas que o progresso poderia e deveria superar.
No final, muitos cientistas chegaram a uma
conclusão sobre a importância do elemento espiritual que está no cerne dessas
culturas . Trouxeram-nos , embora de forma imprecisa, o esboço de como os
nossos antepassados viveram há milhares de anos . E mesmo que seja
parcialmente verdadeiro este esboço,é preciso admitir: sim, as concepções do superior,
espiritual , sagrado, religioso e moral na vida daqueles povos foi fundamental.
Aqui chegamos a uma coisa muito importante . Tome-se, por
exemplo, um templo indiano , hindu ou budista , ou uma mesquita muçulmana, com
suas formas rígidas, em suma, qualquer obra de arte ou arquitetura,
eclesiástica ou secular - Catedral de São Pedro, Catedral de Cristo o Salvador
da Intercessão em Nerl ( é
uma igreja ortodoxa, símbolo da Rússia Medieval), as pirâmides do Egito , o projeto
do Palácio dos Sovietes - cada uma dessas estruturas é a manifestação interior
da visão que há nas pessoas, a sua fé , é a manifestação de como elas
intuitivamente entendem a essência do ser. E se os egípcios entendiam a vida do
espírito como eterna, então as obras de arte egípcias eram a personificação da
eternidade. Se um grego antigo sentiu que, ali bem perto dele, em seu pequeno
mundinho isolado habitado por algumas forças vivas do universo, então ele as retratava
de forma bem humana, e de forma tão perto que as ninfas , os sátiros e os
deuses pareciam seus irmãos e irmãs.
Na verdade, quando falamos sobre os fundamentos de qualquer
cultura , devemos primeiro nos perguntar não sobre algumas formas materiais que
a forjam, mas qual espírito está por
trás dela. E, se corrermos os olhos pela história da civilização, sempre
podemos determinar exatamente o espírito que está por trás da cultura. Além
disso , sabemos que quando uma pessoa começa a desestabilizar-se nas esferas espirituais,
a consequência é a confusão , a crise, e esta desestabilização toma toda a
cultura . É por isso que estamos aqui hoje. Queremos olhar para a história da
espiritualidade, para a civilização do passado do nosso país e de todo o mundo
não apenas como uma forma de curiosidade
( " E como será que era antes ? "), Mas , a fim de compreender o
vínculo profundo e indissolúvel da cultura e da fé, a ligação que foi esquecida,
descartada e deliberadamente negada. Mas a vida e a prática têm confirmado a
velha verdade de que quando as raízes são prejudicadas, e as árvores secam, para
reviver as raízes precisa-se entender sua natureza - o que elas precisam? As raízes precisam de umidade e do solo que dão a vida. O solo
é a vida, a existência terrena; a umidade é o espírito que alimenta-a. É por
isso que é tão importante para nós hoje pensar de onde uma pessoa vem e para
onde ela está indo.
Claro que, em livros ou outros materiais que você teve que ler, você deve ter se deparado constantemente com o pensamento de que o homem primitivo era ateu, ou, como nos foi ensinado, espontaneamente materialista. Mas é muito difícil aceitar este ponto de vista, mesmo porque se pode dos idólatras podemos ter os ídolos, do fetichista temos o fetiche, do cristão - uma cruz ou algum outro sinal sagrado, então que tipo de sinal material pôde deixar para trás o materialismo espontâneo do homem primitivo? Isto é parecido com aquela história de que, por não se encontrarem fios de telégrafos na antiguidade, chega-se à conclusão que os antigos habitantes do planeta dispunham de telégrafos sem fio! Mas numerosos fatos refutam completamente esta visão dos estudiosos acima descrita.
Eu comecei com a questão de que o homem de neanderthal, o ser
predecessor do homem tinha pouca percepção (não vamos tentar determinar
exatamente qual ela seria) de que havia uma existência (realidade) diferente. E
uma vez que o homem se tornou homem , ele imediatamente encontrou uma conexão
com o eterno , ou seja, ele cria a religião. Praticamente, a arte, a religião e
o humanidade tem a mesma idade. No entanto, em alguns livros didáticos já vi a
declaração, que o homem existiu milhões de anos sem religião. Tivemos um
historiador, que até escreveu sobre isso em alguns livros , sendo que um deles
tinha o título de " A Era Pré-religiosa ". Mas ele considerou
principalmente os australopitecos e o assim chamado “homem de Java” , que não
podem ser consideradas como pessoas no verdadeiro sentido da palavra.
Biologicamente eles poderiam pertencer ao gênero Homo , mas não o suficiente
para ser um homem.
Que tipo de movimento podemos ver aqui ? Sim , o homem sempre esteve numa plataforma espiritual. Será que isso significa que há evolução? Ou não ? Não, não há evolução, e aqui está a prova. Nas cavernas da Espanha foram encontrados desenhos: nas paredes o artista primitivo do Paleolítico pintou bisões, mamutes, rinocerontes que estavam parados e outros que corriam. Linhas arrojadas , cores impressionantes, o espírito das feras. Nem todos mestres seriam capaz de transmitir uma imagem de um animal de forma tão sucinta, inspirativa , e maravilhosa.
Que tipo de movimento podemos ver aqui ? Sim , o homem sempre esteve numa plataforma espiritual. Será que isso significa que há evolução? Ou não ? Não, não há evolução, e aqui está a prova. Nas cavernas da Espanha foram encontrados desenhos: nas paredes o artista primitivo do Paleolítico pintou bisões, mamutes, rinocerontes que estavam parados e outros que corriam. Linhas arrojadas , cores impressionantes, o espírito das feras. Nem todos mestres seriam capaz de transmitir uma imagem de um animal de forma tão sucinta, inspirativa , e maravilhosa.
Então surge a pergunta: a arte evoluiu ? Não, não. O “maravilhoso”
sempre foi maravilhoso ao longo de toda a história da cultura humana. A Arte teve
uma história, isto é, houveram diferentes fases , diferentes tipos de arte e
espiritualidade, mas uma evolução no sentido de que houve uma arte primitiva,
em seguida, ele elevou-se mais e mais, isto realmente não houve. Se você se
lembrar das esculturas clássicas da Grécia antiga (você pode vê-los em qualquer
livro escolar) - não há necessidade de pensar que eles chegaram a um certo nível,
e que a Arte anterior a esta era inferior. Não, qualquer artista moderno ou
historiador de arte irá dizer-lhe que na arte grega arcaica havia seu próprio encanto
especial.
No final do século XIX, o escritor e historiador de arte Peter Gnedich
em seu enorme trabalho de três volumes sobre a "História da arte desde os
tempos antigos " dedicou duas páginas para os antigos ícones russos,
notando que os antigos não sabiam
desenhar e por isto, eles faziam os seus ícones daquela forma e somente depois
eles aprenderam a desenhar a anatomia e começaram a representar mais corretamente.
Hoje sabemos que esta é uma visão ingênua. A transição para a arte realista,
não foi um progresso, mas foi mais uma
fase da história. História é o destino
da criação humana . Com certeza, no mundo espiritual há uma ascensão, mas ela é
feita por leis completamente diferentes
, e isso nós vamos conversar , analisando a vida espiritual da humanidade.
Mas para isto é
preciso acrescentar o seguinte: estamos acostumados a tratar os fenômenos e
processos materiais como a verdadeira realidade , de modo que este é o realismo
. E como é que conhecemos a realidade material? A partir da experiência , a experiência
de nossos sentimentos. Porém, os mesmos sentidos que temos, também um chimpanzé os tem, e igualmente um
cachorro. No entanto, uma pessoa tem uma percepção diferente, existe algo que
nos eleva acima do mundo animal. O homem é um ser espiritual - uma criatura
capaz de ter uma experiência diferente do que a experiência dos sentidos. Na
verdade, esse dom espiritual recebido pelo homem, é o mais precioso e o mais
sagrado. Este dom imortal exige um
tratamento especial, porque ele está plantado no homem como uma semente, e algo
dele teve resultar.
Eu estava falando
anteriormente sobre as formas primitivas dos seres pré-humanos. O fato é que
nós estamos relacionados não somente com
eles, mas somos parentes de sangue de qualquer criatura viva na terra. Estamos
conectados com todos os seres. Como é uma célula humana? Nossas células são
iguais a qualquer célula de planta e de qualquer outro animal. Portanto, não
estamos separados do mundo que nos rodeia, não somos uma categoria à parte,
fora deste mundo - estamos todos conectados através do ar, alimentos, água,
gravidade. Estive recentemente na chamada “Cidade das Estrelas”, e conversei
com alguns astronautas, e eles me mostraram um capacete (escafandro), que usam
para sair no espaço. Aquele objeto é construído para se ter autonomia total do
meio externo, assim como a própria nave também o é. Mas por quê precisam
daquilo? Porque o homem está com todos os seus laços amarrados ao mundo que o
rodeia. O homem foi feito da terra. A Bíblia diz sobre ele: " Vocês são
feitos da terra , e à terra tornaras". A carne humana foi criada pela
palavra de Deus a partir do pó da terra, isto é, a partir de poeira, da própria
matéria, e levamos essa poeira em nós
mesmos, até voltar para o pó.
Mas o homem não é só
poeira. Ele está relacionado com uma outra dimensão do ser, a qual não pode ser
vista. E este é um ponto muito importante.
Vamos começar pelo
mais simples. Aqueles que querem limitar o mundo ao que apenas é visível,
encontram-se numa estranha posição. É como um observador, que ao analisar um
raio-X de um grande artista ou pensador, afirma que não há nada de especial
nele e acrescenta: “Olha, a coluna é visível , também pode-se ver o crânio, e o
coração.” Mas onde está seu gênio , onde sua mente, onde os seus sentimentos?
Sim, tudo que é constituído por matéria pode ser visto através do exame, mas
não se pode ver o principal. E realmente, o principal não poderá ser notado com
um exame destes. A espiritualidade não está nos limites do campo físico. Ela não
é possível ser captada pelos nossos instrumentos. Não! Precisamos reconhecer que esta realidade
(chamada homem) tem dois aspectos: o visível e o invisível. Por isto, no
primeiro ponto do nosso " Credo " cristão se diz que Deus é o Criador
de todas as coisas visíveis e invisíveis, ou seja , dos dois aspectos da vida.
Tudo está baseado neste ponto.
Eles estão
relacionados intrinsecamente um com o outro. Por exemplo, uma condição séria do
corpo pode influenciar o estado de espírito , uma vez que afeta o lado
psíquico, e isto pode afetar o estado da alma, e ela pode realizar ações
estranhas no corpo. Provavelmente muitos de vocês já ouviram falar sobre
pessoas que passam por cima de brasas ardentes, ou pelo fogo, ou que controlam
seus corpos , através da yoga. Creio que multiplicar os exemplos aqui não é
necessário. Quando você vê as coisas associadas com a hipnose (e de fato a
hipnose também é um mistério, porque a palavra em si não explica nada, e na
verdade ela continua sendo um mistério para o paciente e para o hipnotizador),
você percebe do que é capaz essa parte invisível do homem – sua alma – e quanta
força e capacidades ela tem.
O homem é feito à imagem e semelhança da
natureza que o cerca. Na flor existe, como eu disse antes, as mesmas construções
de células que há num ser humano, a mesma estrutura, há um núcleo e protoplasma
. Mas à que imagem e semelhança é feita a dimensão espiritual do homem?
Para nós, cristãos , como
todas as pessoas de fé sobre a terra , que tem sido sempre a maioria, a pessoa
na dimensão espiritual é feita a imagem e semelhança do Criador. E esta condição
(feito a imagem de Deus) é a sua tragédia, paradoxidade, sua grandeza e sua felicidade. O renomado biólogo
e médico do nosso tempo Alexis Karel escreveu um livro que recebeu o nome de
" Homem: este desconhecido. " Na verdade, mesmo Alfred Russell
Wallace, que ao mesmo tempo que Darwin, criou a teoria da seleção natural,
perguntou-se, assim: “pois bem, uma pessoa precisa de certas condições para a sua sobrevivência, como por exemplo uma
situação familiar mais favorável, onde os mais fortes sobrevivem. Para isso ele
precisa de um pensamento abstrato, e para o qual ele precisava de uma busca
pelo sentido da vida, busca desinteressada da verdade. E por que no homem então
a busca principal está no sobrenatural?”. E Wallace disse: “A única razão para isto pode
ser somente uma: essas propriedades estão enraizados num ambiente diferente,
num lugar sobre-natural, e essas propriedades são especiais.”. Esquecer este
fato, e mesmo negligenciá-los trás um fardo muito pesado sobre a raça humana.
Períodos de ceticismo e espiritualidade sempre foram perigosos.
Quero terminar com a
questão mais importante para nós sobre as origens da espiritualidade, um muito
atual, ou seja, o problema da moralidade. Você provavelmente já leu o livro de
Yuri Dombrowski "Faculdade das coisas desnecessárias", mas gostaria
de lembrar da fala entre o herói principal e uma jovem pesquisadora. Quando ele
pergunta “Por que você tem esses métodos? por que você trata as pessoas desta
forma específica? - Ela responde: “O que lhe foi ensinado na Faculdade?
A legalidade, o direito, o
humanitarismo – tudo isto é a “Faculdade das coisas desnecessárias”. Esta
jovem, confiantemente, apenas repetiu as palavras de outras pessoas, palavras
peculiares a sua geração: “tudo isso são coisas desnecessárias”... Posteriormente
verificou-se que estas coisas são na realidade as mais necessárias, porque sem
elas o homem perece. Recentemente, li que antes da morte Henry Berry disse:
"Eu destruí tantas pessoas e as torturei, e agora eu tenho uma condenação
sobre mim. Isso significa que Deus existe. "
É uma pena que chegamos a
esses pensamentos apenas em situações críticas, mas antes tarde do que nunca .
A questão é: existe uma ordem moral no mundo? Será o bem algo objetivo ou ele é
algo inventado por pessoas, uma certa categoria convencional? Se é uma
categoria convencional, então é muito fácil de disfazer-se dela, é muito fácil
cada um de nós definir os seus próprios critérios de “bem”. Cada pessoa os
moldará a partir de um modelo egocêntrico: o bom é o que me agrada, o mal é
algo que eu não gosto.
É exatamente como a
conhecida história sobre o missionário que estava tentando explicar para o
pagão o que é o bem e o mal. Depois disto ele perguntou: "Bem, se alguém
roubou de você uma vaca, isto é mau? -
“Sim, é mau”, disse o pagão. “E se você roubar uma vaca? - “Neste caso, isso é
bom", respondeu o mesmo pagão.
Todos estamos nesta
posição porque somos egocentricos. E
você diz, onde está ele? Por que uma pessoa é egocêntrica? Em primeiro lugar, o
egocentrismo vem conosco por toda a infância, cerca-nos. Uma pessoa em sua
infância o tempo todo sempre está recebendo, sempre consumindo: é alimentada,
acalmada, vestida, e então ela acha que deve ser sempre assim. Esta é uma das
razões. Há uma segunda razão , na qual eu quero me deter um pouco. Esta razão
que chamamos de pecado original da humanidade. Jean Jacques Rousseau disse uma
vez que Deus criou o homem perfeito, mas a sociedade foi que o arruinou, ou
seja, as condições externas, e nós sempre tendemos a acreditar nisto. Leo
Tolstoy usava no peito em vez de uma cruz, um retrato de Jean Jacques Rousseau.
Até o fim de seus dias, Tolstoy acreditou que o homem , por natureza, era bom.
Mas isto é assim
mesmo? Aqui lembro-me das palavras do poeta Yevgeny Yevtushenko. Em um de seus
últimos poemas ele escreveu: "Eu acredito no homem!". E neste mesmo
poema, ele enumera todos os tiranos ,
ditadores como Salazar e Beria . Mas
eles também eram homens. Em que, então , acreditar ? Por que devemos acreditar
no bom, e não no mau?
Eu posso entender o
remorso do czar Ivan, o Terrível. Ele foi um homem educado em princípios cristãos,
e sabia que derramar sangue de um inocente era pecado, e mesmo assim ele o fez.
Em seguida, confessou seu pecado, contudo, mais uma vez tornou a derramar
sangue inocente. E isto o levava a ter um grande tormento na sua alma. E que tormentos
podem ter ocorrido com, digamos , Stalin? Ele acreditava que as pessoas eram
apenas lixo, criaturas de curta duração e que as matar não custava nada, e isto
não era nenhum pecado, nenhum mal havia nisto. Para ele, como para o selvagem
pagão acima mencionado, o mal era o que podia machucá-lo, o bem era estabelecer o seu poder absoluto sobre os
outros, não existindo qualquer barreira para isto, e todo
o resto era supérfluo.
Contudo, o bem e o
mal são categorias objetivas, e seguir os princípios do bem faz parte da
vontade e das ordens do Criador. E
precisamente porque isto é um mandamento, sentimos e compreendemos não ser tão
fácil de realizar. Nós não somos ordenados a, digamos, andar sobre duas pernas,
pois para nós é algo natural. Mas quando nos é dito no Evangelho que devemos
perdoar, isto sim é um mandamento, pois significa que temos de lutar, criar uma
nova realidade, superar a si mesmos,
porque perdoar não é natural para o homem .
Mas, se os
mandamentos são dados do alto, por que as pessoas os violam? O homem quebrou o
mandamento já desde o início. Eu acho que você se lembra da história descrita
na Bíblia sobre as primeiras pessoas. Muitos já riram e ridicularizaram o
suficiente essa história, fizeram até mesmo caricaturas dela, mas esqueceram do
ponto principal, muito bem expressa pelo profeta Habacuque certa vez: " Aquilo que foi feito
antes, agora está sendo feito novamente". Num de seus sermões, Habacuque falou
sobre Adão e Eva e, em seguida, transferiu este drama para os acontecimentos
contemporâneos a ele.
A Bíblia nos fala do
eterno de forma figurada. O homem está diante de Deus , e diante dele estão bem
abertos vastos horizontes, ele recebeu a supremacia sobre toda a natureza, para
que a possa (como diz a Bíblia) cultivar e preservar. Isso significa dizer que
precisamos entender e trabalhar com a natureza de forma fraternal, tendo em
vista que o homem foi criado a partir da mesma terra, como os próprios animais,
que são neste sentido seus irmãos e irmãs. O homem é seu mestre, mas não é um
tirano, como se vê no relato bíblico ao mostrar que o homem deu-lhes nomes. No
paraíso, no coração do Éden, havia uma árvore, a árvore do conhecimento do bem
e do mal, à qual Deus proibiu o acesso humano. Deus disse que a pessoa morreria
se comesse do fruto da árvore. Claro, você pode estar surpreso do por que o
homem não poder conhecer o bem e o mal, pois nisto estaria a própria moralidade.
Mas o fato é que esta é uma leitura superficial. A Bíblia deve ser lida
atentamente, comparando com outros textos. O bem e o mal neste contexto, não
significa “conceitos morais” em si. Podemos dizer que o que aqui se tem em
mente são os pólos extremos da vida (bem-mau, saudável – nocivo), como o Yin e
Yang chinês. As palavras “bem e mal”, são uma expressão idiomática "tov ve
ra", que representa o TUDO no Universo.
E o “conhecimento”? O
Antigo Testamento , assim como o Novo testamento, não entende a idéia de “conhecimento”,
no sentido abstrato em que é entendida pelo pensamento antigo. Para o
pensamento antigo "Conhecer" significa deixar claro para o intelecto.
Já para o pensamento bíblico, "conhecer" significa adquirir, fundir,
sentir cada fibra. "E Adão conheceu Eva, sua mulher" – “conhecer” é o
verbo usado para descrever a íntima união do homem e da mulher. Assim, a árvore
do conhecimento do bem e do mal é um símbolo universal da natureza, da
existência, sobre a qual o indivíduo não tinha o direito de apoderar-se. Ele
não tinha direito ao domínio espiritual, o poder coercitivo, no qual ele
poderia se auto-afirmar triunfantemente.
E aqui teve início o drama eterno. Eva aproximou-se desta árvore,
e a serpente, simbolizando tudo o que é vil e traiçoeiro, pergunta para ela:
- Deus vos proibiu de
comer de todas as árvores? (Foi uma provocação).
Ela responde:
- Não, tudo é nosso,
exceto aquela árvore.
- Por que você não
tem permissão para comer desta árvore?
- Porque Deus disse
que vamos morrer se nós comermos dela.
- Não morrerão, diz a
cobra, mas sereis como os deuses, conhecendo o bem e o mal, dominando o bem e o
mal (ou seja, vocês vão se tornar rivais de Deus, vocês serão como os deuses e
não morrerão).
E isso foi o
suficiente para Eva, nossa primeira mãe, pegar o fruto e olhar para ele, e este
pareceu-lhe atrativo. Eva mordeu, e depois Adão.
"Você vai ser
como Deus no comando do bem e do mal."
Esta foi a tentativa do
homem de afirmar-se , de contrapor sua vontade à vontade do Cosmos, à vontade
divina, para criar as suas próprias regras , inclusive moral , de atribuir a si
o direito de eliminar tanto a natureza, quanto a moralidade. Estes pontos
também se encontram no fundo da queda universal da humanidade. É por isso que
Rousseau estava errado, ao dizer que o homem, por natureza, é bom. No interior deste homem
existe um antagonismo entre o bem e o mal. E, nas palavras de Fyodor Dostoevsky,
“o diabo está lutando com Deus nos corações das pessoas”. Sim, creio que isto é
assim mesmo. Se nós retivermos estes pressupostos (o homem não é bom por
natureza), então poderemos entender toda a complexidade e grandiosidade da
história humana. Nós iremos pelo caminho do esclarecimento, pois não somos ingênuos
selvagens que a sociedade corrompeu. O homem vem lutando consigo mesmo, e é
preciso passar por esta fase de luta interna.
A história da
humanidade não é um caminho de evolução, mas uma batalha que tem vitórias e
derrotas feita em nome daquilo que resta do divino que foi semeada em nós. Quanto mais nos aproximamos de nosso protótipo
ideal, mais próximos da realização da nossa tarefa. Pense sobre o que está dentro
de você. Não é Deus, propriamente, que vive em nós. Isto teria sido muita
ousadia e metafisicamente sem sentido. Somos limitados, os seres condicionados,
mas refletimos em nós mesmos uma eternidade, uma incondicionabilidade. E isto deve
ser sentido, se passar internamente em nós, pois aqui se inicia a fonte do
crescimento espiritual. O crescimento espiritual afeta nossa atitude para com
as pessoas, irmãos e irmãs, afeta o nosso trabalho, e isso influencia na
maneira como nós conduzimos a vida. Afinal, o único ser neste planeta, entre
todas as criaturas, que consegue produzir, criar somos nós. E nós criamos, imitando
a Deus, o Criador de tudo.
Assim, a raiz do
desenvolvimento espiritual do homem é um esforço em direção ao céu, ao eterno,
e isso se aplica não só aos grandes autores-criadores, não só ao período das grandes
vôos criativos, mas também à vida cotidiana de cada um de nós. A busca pelo imortal
não está longe, mas em nós, e nos é inerente muito mais do que outros aspectos.
A nossa felicidade, nossa harmonia interior está em descobrir o imortal. O
homem perdeu a Deus no momento em que ele desejou trocá-lo pela sua própria vontade.
E isto aconteceu na história da humanidade não apenas uma vez, mas se prolonga até
os dias de hoje. "Sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal" - estas
palavras são repetidas através dos tempos. Mas o que aconteceu com Adão, quando
ele atentou para o fruto proibido? Ele viu que estava nu, e isto foi tudo que
recebeu.
E qual a atual situação da humanidade
neste século? O século XIX estava cheio de esperanças de que o século seguinte
se tornaria o século dos deuses. H. G. Wells intitulou um dos seus livros “Homens
como deuses” (Men like gods). Este homem vencedor controlaria raios e trovões, se
elevaria até o Cosmos e desceria até as
profundezas do oceano, enfiando-se nas profundezas da matéria, e seria o
conhecedor do bem e do mal, tornando-se “como os deuses”. Porém no final das
contas, vemos que estamos nus, e que tudo isto não nos ajudou em nada. A
ciência, que é maravilhosa por excelência, está impossibilitada de fazer o
homem feliz, pois o conhecimento é apenas um lado de nossa natureza, e o que há
de mais profundo no homem está conectado com o que é eterno. O homem
primitivo sentia a pulsação do batimento do universo, o segredo da existência.
O homem do Antigo Oriente, da Grécia antiga, da Roma, da Idade Média, e de todos
os tempos, só era mais maravilhoso na medida que se aproximasse da busca do
eterno.
No centro da busca humana, assim como
nas encruzilhadas de toda a nossa existência, sempre está a cruz de Cristo. Por
quê? O que deveria ter acontecido?
A eternidade não nos é acessível.
Sempre me lembro do livro do profeta Isaías. Deus, através dele, diz palavras
terríveis:
“Assim como o céu está longe da terra,
assim os meus pensamentos estão distantes dos vossos. Eu sou Deus e não homem
(hebr. Ani Elohim ve lo adam)”.
O
Deus criador não é homem. Ele ultrapassa desmesuradamente tudo o que o homem
pode conceber em sua mente. Mas somente os nossos pensamentos humanos de total limitação
podem nos auxiliar na tarefa de conceber aquele que “fez o universo pela sua própria
força toda-poderosa e dos céus presenteou com a vida a todos na terra, e a nós homens
o domínio sobre este mundo multiforme colorido”
(como disse Shota
Rustaveli poeta georgiano do século XII, considerado por muitos um dos maiores representantes da
literatura medieval). Deus não tem um nome, exceto aquele que Ele
próprio nos revela. O homem não pode conhecer mais nada dEle. . E assim, a fim
de juntar-se a nós, carregando uma centelha do Divino , ele teve que se
humilhar . " Mas a si mesmo se humilhou, tomando a forma de servo, de um
escravo " – isto é o que é dito a respeito de Deus , que revelou-se a nós
em Cristo.
O aparecimento de
Cristo não foi uma manifestação moral nova, ou uma nova doutrina, ou uma nova
filosofia, mas a revelação do Eterno na sua plenitude, dentro daquilo que nos é
possível receber. Por isto a História da cosmovisão que iremos seguir ao longo
destes nossos encontros, é o caminho desde Adão (ou seja, do ponto de onde o
homem se separa de Deus), até Cristo. A partir de Cristo existe apenas 2
caminhos possíveis, ou seguir atrás de Cristo, ou afastar-se dele. E aqui está
toda a essência da história universal. A igreja instituída por Jesus Cristo,
repete para nós as palavras dEle: “Siga-me, siga-me” Aquele que quiser vir após
mim, tome a sua cruz (ou seja, seu ministério) e siga-me. Ainda se pode ir
contra Cristo, voltando atrás. Esta volta é uma contínua repetição do pecado de
Adão, que quis ser como Deus, e que por fim acabou apenas nu e impotente.
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