sábado, 3 de agosto de 2013

Caixinhas... 

Vivemos num mundo dominado por caixas. Elas estão por todas as partes, ocupam os espaços, invadem nossas vidas e nem percebemos. Mas basta darmos uma olhada ao redor e lá estão elas, cercando, limitando, contendo.

Elas são um mal necessário numa cultura puramente consumista, pois padronizam, dão o limite e o valor correto do que carregam, dando-nos noção de segurança e de confiabilidade. Ao pegarmos, por exemplo, uma caixa que contem a inscrição “1 litro”, sabemos que ela leva em si um padrão de medida correto e não deixa o volume extrapolar o indicado, nem mesmo conter demasiadamente menos do que promete, e isto torna o preço pago justo, pois  todos que comprarem aquele produto estarão levando a mesma quantidade pelo mesmo preço que nós. É uma massificação das coisas.

Mas existem caixas muito mais perigosas. São aquelas que nós impomos a nós mesmos e aos outros como padrões exatos e inquestionáveis. Não existe espaço para perguntas e dúvidas. O que é, é!

Por isto padronizamos, massificamos. Assumimos que as caixas são os limites da realidade e do mundo.
Nossa visão vai somente até as paredes, não imaginando que exista algo além da tampa. E aqui é que reside o grande perigo.  Neste afã de padronizarmos tudo, perdemos a percepção de que existem aspectos da vida que não podem ser encaixotados. Para nós, limitados, aquilo que extrapola as dimensões da caixa, precisa ficar do lado de fora dela, pois não existe espaço interno para acomodar o objeto “subversivo”.

Mas se este objeto passa a ser necessário e inevitável, não podendo ser ignorado, nós iremos construir uma caixa ainda maior para poder comportar tal objeto. Contudo, isto levará muito tempo até ser assimilado e aceito. Muitos hereges da “desencaixotação” e “reencaixotação” irão pagar o preço de teimar numa revisão do tamanho da caixa em que vivem.

Quando falamos da incapacidade de “encaixarmos” determinados assuntos, nenhum pode ultrapassar a ridícula tentativa de colocar Deus nas nossas amadas caixas. Por definição (que já é uma CAIXA), Deus é, entre outras coisas, Criador e infinito, e somente estes dois aspectos já colocam nossa tentativa em completa contradição e impossibilidade de realização. O infinito não pode ser contido, armazenado e limitado por criaturas de condição finita. Creio que neste aspecto muitos irão concordar em tese, mas na prática diária irão continuar buscando uma caixa que seja ao menos compatível para Deus. Definimos Deus, ditamos sua vontade, descrevemos sua Teologia, restringimos sua ação. O Deus de muitos cristãos está agora dentro de compartimentos, etiquetados e usados conforme suas preferências.

Enquanto isto, Deus está do lado de fora das nossas convenções, provavelmente rindo de nossas tentativas estapafúrdias de definir o universo baseados na altura e largura da parede à nossa frente. Em muitos momentos, estas conversas de loucos, como que numa caverna escura, acabam por se tornar o que chamamos de RELIGIÃO. Ela é a fosca tentativa de tentarmos explicar projeções de sombras extra-caixa feitas nas paredes, só! Em muitos casos, estas tentativas até  geram seres que irão se libertar do interior, e que buscarão o motivo da sombra não na própria sombra, mas no mundo que está além da tampa.

Entretanto, na maioria dos casos, apenas teorias enlatadas irão aparecer para explicar as sombras.
Pode ser exatamente por isto que Cristo veio. Ele precisou vir para dentro de nossas caixas humanas para de alguma forma poder nos levar para fora e mostrar o mundo como ele realmente é. Ele foi a luz do mundo, pois veio da luz, a luz que está lá fora. Muitos, contudo, ficaram ofuscados por esta luz e tiveram medos, fobias e desesperos, pois a luz era demais para eles. Outros ainda, que até chegaram à entrada, ao olharem para fora, não puderam enxergar nada, pois estavam acostumados com a escuridão da caixa. Porém, aqueles que confiaram nEle, encontraram o Pai em glória e luz do outro lado. Mesmo não entendendo de imediato a nova Realidade, muitos resolveram baseados em sua intuição (fé), aceitar a “nova” visão de mundo.

Caixas nos limitam e atrofiam. Nossa capacidade limitada não nos permite vivermos sem elas, mas precisamos saber que elas não são a Realidade final. Sempre haverá algo além. Acreditar nisto, é viver. E crer naquele que tudo fez, é ter a vida eterna!

Que possamos aprender a ter nossos olhos voltados para as tampas, sempre esperando ter respostas que vão além das sombras nas paredes!


Leialdo

Um comentário:

  1. O mais engraçado é que aqueles que lerem, vão inserir essa filosofia em suas caixas e reter somente o que é conveniente. Isto é, a teologia e todo conhecimento de mundo sistemático pessoal continuará a mesma e tudo continuará o mesmo, até o momento em que o indivíduo sair da caverna e ver a luz ofuscante. Vai dela tentar entender tudo o que vê, com mente aberta, ou ver somente o que quer e inserir tudo em sua compreensão fechada.

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