sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Sementes entre espinhos...


(Marcos 4.18)

Havíamos chegado naquela primavera de 2002 para conhecer o trabalho de uma associação de igrejas parceiras no sul da Rússia. Esta União vinha implantando igrejas no sul do país desde o final dos anos 80, quando a liberdade religiosa começou a se firmar. Os planos eram ambiciosos, fundar 500 igrejas em 10 anos. Eles contavam com um Seminário Bíblico que tornou-se o segundo maior do país, tendo alunos vindos de várias regiões. As oportunidades de publicamente apresentar Jesus Cristo nas ruas das cidades e em grandes shows avolumavam as possibilidades de crescimento numérico. O custo de manutenção de uma família pastoral-missionária era extremamente baixo para os padrões ocidentais, cerca de 100 dólares mensais. E para muitos esta era uma oportunidade de escapar da forte crise econômica e da altíssima taxa de desemprego pela qual passava o país. Ainda havia a apelativa popularidade que o ministério pastoral exercia sobre as multidões que acorriam para os locais de encontro das igrejas “ocidentais”.

Contudo, a situação muda radicalmente no início do novo milênio. O país inicia a sua recuperação econômica e o clima de liberdade religiosa toma outros rumos. Aqueles que haviam encontrado uma tábua de salvação no ministério, agora veem aparecer diante de si outras possibilidades de ganhar a vida. Os custos para se manter uma família aumenta, e os recursos vindos de fora começam a minguar. O interesse e a curiosidade do povo pelo “novo” vai desacelerando, e no lugar aparece um sentimento de repúdio pela intervenção estrangeira na vida religiosa nacional. Os planos audaciosos de implantação de igrejas são praticamente abandonados, sendo que a Associação não consegue superar a barreira de 50 igrejas e congregações. O mesmo ocorre com todas as outras denominações!

Mudamos para a Rússia em 2005, em meio a crise e incerteza das igrejas locais. Após 6 anos de ministério lá, pudemos notar pouca mudança no quadro geral. Em alguns casos, houve uma significativa piora, já que igrejas estavam definhando e morrendo. A pressão externa dos órgãos governamentais, a campanha difamatória da igreja oficial do Estado, mas principalmente as preocupações e riquezas deste mundo, levaram o movimento de evangelização a uma estagnação completa. O que o socialismo ateísta não conseguiu em 70 anos, parar a igreja, o capitalismo materialista o fez em menos de 10 anos. Hoje a igreja russa luta para sobreviver, sufocada pelos espinhos e pedras.

Mas a pergunta que fica para nós aqui no ocidente é: não corremos os mesmos riscos com nossa teologia mais voltada para posses, bençãos e prosperidade? Não seria isto apenas um outro nome para o mesmo veneno? Que tipo de sementes somos?

A Deus somente a glória!!!


Leialdo Pulz

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