O clima de apreensão decorrente da política adotada na
Rússia em relação às “seitas ocidentais” estava
definitivamente instaurado, especialmente na região de Krasnodar em
meados da década passada.
Mas uma geração nova de cristãos não-ortodoxos havia
crescido, frutos da massiva evangelização em curso na década final
do milênio passado. Esta geração estava agora entrando nas
universidades. O problema começou quando os novos cristãos
comprometidos se dispuseram a compartilhar a sua fé com os outros
estudantes.
Organizações cristãs haviam entrado entre os
universitários, e o trabalho estava se firmando. Mas a política
repressiva já varria todos os segmentos, e a universidade não
ficaria obviamente de fora. Reuniões coletivas foram
“desestimuladas”, e os vistos estudantis para estrangeiros mais
vigiados. Ninguém escapava dos olhos atentos do diretor do
departamento de alunos estrangeiros, um senhor já muito idoso,
conhecido como ex-agente da KGB, que esteve em muitos países, inclusive por
toda a América Latina, morando anos em Cuba, e conhecedor do
espanhol. Mas existe "ex-agente"?
E não apenas os estudantes estrangeiros eram
vigiados. Em 2005 uma estudante da universidade foi expulsa por
motivos escusos. Apesar de toda a camuflagem feita pela própria Universidade, sabia-se que o motivo
era o fato dela ser cristã. Ela entrou com uma ação para ter o
direito de voltar a universidade, alegando que a constituição lhe dava o direito de professar sua fé de forma pública. Seguiu-se uma
batalha judicial que se arrastou por alguns meses. No final, a moça
ganhou o direito de voltar. Ela era membro da igreja que
frequentávamos no nosso primeiro ano na Rússia.
Aquela
situação serviu para estarmos atentos para o que acontecia ao nosso
redor, pois éramos estudantes da mesma Universidade, e ficou muito claro
que todo o cuidado era necessário. Nossa vida universitária lá
precisaria ser imaculada e livre de suspeitas. Sabíamos que eles
sabiam, mas não podíamos dar motivos para acusações. Fomos
questionados algumas vezes por professores, que nitidamente queriam
identificar nossas “reais” intenções, mas a posição adotada
de sermos sempre comprometidos com os estudos nos deixava numa
posição de graça diante de professores e diretores. Aprendemos as
orientações de nosso Mestre em Mt
10: 16. Muitos, infelizmente, não tiveram a mesma prudência, e
pagaram caro por isto. Isto ocorreu, por exemplo, 1 ano antes de chegarmos, quando
um grupo de coreanos cristãos foi acusado de não estarem cumprindo com sua
tarefa estudantil e foram mandados embora pela Universidade. Eles haviam pego o visto estudantil para se
infiltrarem na vida universitária.
Existe
ocasiões de sermos pombas, contudo, em outras precisamos ser muito
mais como serpentes, conforme Jesus ensinou....
Leialdo
Textos anteriores desta série:O expurgo
Sementes entre espinhos
http://provocaacoes.blogspot.com.br/2014/11/o-expurgo-de-2002.html
http://provocaacoes.blogspot.com.br/2014/11/sementes-entre-espinhos.html